Os planos do Inter para chegar aos 200 mil sócios

Portal Resistência Colorada em entrevista exclusiva com o vice-presidente de Marketing e Mídia do Inter, Jorge Avancini

O Internacional tem em seu quadro social uma importante receita. A previsão orçamentária para 2021, por exemplo, aponta arrecadação de R$ 76 milhões. Para alcançar uma importante marca, o Inter recrutou um velho conhecido: Jorge Avancini.

O profissional foi o criador do plano de sócios-torcedores que fez o clube ultrapassar a marca dos cem mil sócios em 2009, ano do centenário colorado. Porém, a trajetória às margens do Guaíba começou antes.

Ao todo, Avancini tem 15 anos de Inter, dando início à jornada nos anos 2000. Em 2015, se desligou do Clube do Povo com a tarefa cumprida para trabalhar no Bahia. Voltou para o Colorado com a missão de inflar o quadro social com 200 mil sócios em três anos, período de mandato da atual gestão.

De acordo com o Portal da Transparência do Inter, com sua última atualização em setembro passado, aponta 116 mil sócios. O portal Resistência Colorada entrevistou o dirigente por telefone, que revelou planos de tornar o Inter clube mais digital do país. Veja abaixo:

RC – Pensando em chegar aos 200 mil sócios, há algum plano específico para o torcedor mais popular, com menos recursos financeiros?

Sim, estamos pensando em todos, não só no popular, mas em todos os perfis de torcedores que nós temos. O Inter tem uma gama muito grande de torcedores, 7 milhões de apaixonados, tem todas as categorias sociais, então estamos avaliando desde o torcedor mais humilde, mais popular, até aquele que tem uma posição de vida mais confortável. Todos eles são torcedores, têm comportamento igual, isso é a filosofia do clube. O que nós temos que encontrar são produtos adequados que não tragam prejuízo para o clube e atender aos diversos segmentos de perfil social.

Aquela caravana do Inter, que aproxima os ídolos com o torcedor do Interior, com a taça do Mundial, entre outros itens, agora não está em ação por conta da pandemia… O Inter perde muito sem ela? É importante para essa meta de sócios? 

Vou te falar dentro da minha área: eu entendo como muito importante. Antes, não eram os moldes como já foi realizado agora, mas os consulados tiveram pra mim um papel fundamental na conquista de sócios, isso na primeira década deste século. Graças a todo o trabalho e comprometimento dos consulados, a gente conseguiu com o apoio deles chegar aos cem mil. E na realidade eu acho que isso  é importante, com certeza o Cauê Vieira (vice-presidente de Relacionamento Social) vai reavaliar, vai retomar isso aí de alguma maneira, ajustando, adequando, qualificando, seja o que for, porque nós precisamos continuar indo ao encontro do torcedor do Inter onde ele estiver. Tem duas formas de fazer isso: as caravanas, que fazíamos, ou de forma virtual, que é tornar o clube o mais digital do Brasil. É disso que nós vamos correr atrás.

Cerca de 25% do quadro social é formado por mulheres. Tem algum plano pra isso, ou gênero tanto faz nas campanhas?

O plano de hoje tem toda uma questão de nova realidade com os gêneros, aos quais nós estamos nos acostumando. Alguns gêneros até pouco tempo você tinha tabus em falar, em comemorar, fizemos aqui uma homenagem aos LGBTs decorando o estádio, iluminando com as cores da causa, fizemos um trabalho forte com as mulheres no dia internacional, tivemos a camisa rosa no câncer de mama, a ideia é trabalhar. Tem algumas coisas pensando pra outros gêneros esse ano, em parceria com Adidas, porque todos são torcedores do Inter e temos que acolher. Somos um clube que nasceu com essa filosofia, está no nosso DNA. Claro que não tinha essas classificações de gênero, o mundo mudou muito em 112 anos e o clube tem que se adequar a esse novo momento, esses perfis. Tanto que digo sempre, quando lançamos o plano de sócio 20 anos atrás, tratamos os torcedores do Inter como uma coisa só, que ia de zero a cem anos, hoje não podemos fazer isso. Tenho o perfil do torcedor que tem até 15 ou 20, o mais de 60 e outro, ver essas questões de gênero, isso antes existia mas era escondido, hoje tu tem que atender. 

Os interesses são diferentes, a comunicação é diferente, e são coisas que você vai ficar alimentando na tua comunicação. Hoje dificilmente vamos lançar um novo plano de sócios ou novos produtos de forma tão ampla como foi há 20 anos. Claro que talvez para chamar a atenção num primeiro momento, vai colocar pra todo mundo ver, mas tem que conversar com cada perfil, cada persona, público-alvo. Ver o que esses caras querem, seja eles a opção que ele tem. E temos que atender, não podemos ser um clube de preconceito, isso está no nosso DNA. Questão de cor, de raça, religião, o Inter é aberto, não tem questão política, não defende nem a nem b, embora os dias de hoje levem a uma polarização. Temos que ficar fora disso, temos gente de tudo que é lugar, de todo tipo de pensamento, preferência, enfim, temos que entender isso. e é isso que vamos buscar. essas informações são fundamentais para poder chegar nos 200 mil.

Avancini concilia a função no Inter com palestras e outras atividades (arquivo pessoal)

Citasse antes os consulados. Lá naquela campanha dos cem mil sócios, o senhor fez um esquema para premiar os consulados. Tem algum plano parecido agora?

Sim, temos. É um plano que foi sugerido pelo conselheiro Carlos Cardoso, ainda conselheiro do clube, e sempre converso com ele, meu grande amigo, sou um grande defensor. Todo mundo cede para dar parte de seu tempo em carinho ao clube, mas claro que hoje, 12 anos depois, temos que ver o que tem de mais moderno. Mas essa promoção foi o ponto de virada, pra ter uma ideia naquela época, 60% dos 100 mil estavam a 150km do Beira-Rio, graças a esse trabalho dos consulados, projeto que a gente instituiu algumas metas, 1% da população do município tinha que ser sócio, foi muito legal. Temos que ver quais são as novas tendências, mas está na pauta. Estamos agora em um período de reorganização, tem que reorganizar para efetivamente colocar o clube nesse novo normal, esse novo mundo.

Vocês (jovens) têm muita ideia na mão, estão vendo o jogo, falando no WhatsApp, no Playstation, o que acontece com a galera entre 15 a 25 anos, antigamente não tinha isso. Não tinha Twitter, cara, quando a gente começou só tinha o site a meia boca. Depois veio o Orkut, ICQ, foi um dinossauro do Messenger. Cada dia uma novidade, a pandemia mostrou, não só as tecnologias que vieram, as novas, e vocês jovens consumindo isso. Na minha idade pra comprar equipamento tem que vir um sobrinho junto pra te ajudar, então não funciona. Temos que entender como vocês pensam, como funciona, o pessoal que não quer mais ir a jogo, quer ficar no conforto de casa, com os amigos;

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Então de lá pra cá o senhor se transformou também…

Eu sempre procurei me atualizar, é difícil porque a velocidade e a capacidade de conhecimento das gerações mais novas, é fogo. vocês são muito ágeis, isso é fantástico. Hoje eu vejo crianças de quatro anos no restaurante mexendo no aplicativo como se fosse um cara grande. Eu não consigo acompanhar, eu posso não entender, mas eu busco. É a mesma coisa com eSports, eu sou amador, eu sou eu mesmo, e não podemos ficar de fora. Lançamos até um projeto que estava adormecido. Assim junta milhares de pessoas e é fantástico, e vejo as competições lá fora e penso “não podemos ficar fora disso”, e aí vai ter dinheiro, monetização que é o ideal. Quando fui botar o Rodrigão como capitão da equipe, o Rodrigao é um dos caras mais reconhecidos no PES, pô então eu estuo falando com o cara que está se atualizando e sabe muita coisa. Agora, meu papel é decidir. Eu preciso ter noção, meus pares também sabem que é importante, mas não entendem completamente.

Avancini concilia a função no Inter com palestras e outras atividades (arquivo pessoal)
Avancini concilia a função no Inter com palestras e outras atividades (arquivo pessoal)

Nesse tempo de pandemia, as pessoas vão cortando o que podem no lado financeiro. O que o Inter pensa em fazer para que esse associado não corte a mensalidade?

A gente já está fazendo, no ano passado teve a campanha da camisa para quem estava em dia, ficou de seis meses a um ano com mensalidade em dia, estamos terminando essa campanha, vai até junho. Tivemos alguns problemas de logística porque teve uma adesão muito grande, então estamos terminando e pensando qual é a segunda campanha de fidelidade que vem para o segundo semestre. Estamos revisitando todo o plano de sócio, vamos lançar algumas novidades para acompanhar tudo isso que estamos conversando, de ir ao encontro do digital, que é a filosofia do clube. E privilegiar o sócio, o sócio em dia é quem manda. Ele tem que receber o conteúdo todo na frente, tem que ter privilégios que o torcedor não-associado não tem. O sócio é aquele cara que está com o Inter na boa e na ruim. Aquele torcedor que só vai na boa, em jogo de final e semifinal, esse cara vai ter uma dificuldade. Nós estamos na fase agora de organizar a casa, o clube como um todo precisa ser organizado. Tem muitas coisas que foram empurradas ao longo das últimas gestões, deviam ser enfrentadas no passado e não foram. E muito para se adequar, até pelo que a pandemia trouxe. A pandemia mostrou que o caminho é o digital.

Quantas lives você viu, fez, participou, quanto curso. Hoje não precisa mais de reunião, com a questão do home office. Então, a gente tem que se perguntar: como vai ser o torcedor pós-pandemia, quando liberar o estádio? Vai ser diferente, os cuidados vão ser redobrados, esse torcedor passou a ter na sua mão com um custo muito barato várias tecnologias. Tu me deste vários exemplos aqui, hoje eu tenho amigos que não assinam mais TV a cabo porque o cardápio é uma droga, serviço é ruim, e foi embora pro streaming. Então é mais fácil assinar Netflix, Spotify, Disney, Amazon, sai mais barato e tem mais variedade do que assinar um pacote de TV, te empurrando 40 canais que não te interessa, que você não vai nem ver. E os caras não se modernizaram.

Central de Atendimento ao Sócio do Beira-Rio (Divulgação)
Central de Atendimento ao Sócio do Beira-Rio (Divulgação)

Em uma entrevista você falou que quer levar o Beira-Rio para a palma da mão da pessoa. Cite um exemplo, o que é isso?

É digital, celular, através de várias ferramentas, tu possas ter todos os conteúdos possíveis e imagináveis, desde comprar ingresso, checkout, geolocalizador para chegar no estádio, receber promoções do marketplace, dos parceiros do clube, fazer transferência de conteúdo, interação com o placar eletrônico, interações de texto. O sócio vai receber preleção do vestiário, e até chegar no futuro: por que o clube não pode transmitir o jogo? Vou gerar meu conteúdo e disponibilizar para quem quiser comprar, como o Athletico vem fazendo. Isso é o digital. Sobre revista não vai ser mais impressa, vai ser PDF pra tu teres acesso em qualquer dispositivo, onde tu estiveres ligado. Para o público mais velho, que quer saber mais sobre a história do clube, ver entrevistas, quer rever um jogo… Hoje temos no clube uma biblioteca maravilhosa que são oito DVDs que contam a história do clube, que hoje caiu em desuso. Estou vendo com os caras que gravaram na época para disponibilizar isso em conteúdo digital. Vai ver final de Yokohama, participação em Dubai, está lá, material de excelente qualidade.

Isso aí em recorte gera engajamento…

Pois é, mas como é que tu fazes? É isso que estamos montando, temos que monetizar isso aí, qualificar e trazer engajamento, e principalmente o digital vai nos permitir nos defender da invasão europeia, dos clubes da Europa, que estão invadindo cada vez mais aqui e pegando as gerações mais novas. O cara que não quer mais ir ao estádio, não compra a camisa do Inter, prefere a do Manchester, da Juventus, do Real Madrid. Então temos que ser criativos. E quando falo levar o Beira-Rio, hoje tu estás estudando na Austrália ou na Finlândia, e tu queres assistir ao jogo, na palma da tua mão. Ou quer participar de um chat, de um streaming, podcast, quer fazer um tour virtual no estádio ou no museu, quer assistir ao jogo no camarote virtual, isso vai estar tudo desenhado. O que estamos fazendo agora é tentando analisar estrutura, parceiros, fornecedores.Fechar uma parceria com a Amazon ou outra empresa, que tu viras sócio e já ganha um pacote básico. Isso é um trabalho que temos que construir ao longo desses três anos.

Para finalizar, algo mais pessoal. Por que decidiu voltar ao Inter sem ganhar um centavo?

Várias coisas, primeiro que estou numa fase que estou aposentado, embora tenha atividade forte na consultoria, minhas palestras, e faço um trabalho. Minha agenda me permite hoje ter flexibilidade e tenho o meu pé de meia, estou com 66 anos e consegui fazer um bom pé de meia. Era um dos objetivos, quando fui para o Bahia era pensar na minha retirada do mercado. Eu não consigo ficar parado, a questão do Inter é a paixão. Quando eu voltei do Bahia em 2018 e me liguei ao Inove Inter como movimento político do clube, foi para trazer coisas que eu defendo e que essa gestão agora, a Aliança, está vindo ao encontro do que queremos, a profissionalização do clube, trabalhar as oportunidades, gerar dinheiro. Então acho que posso trazer minha experiência e contribuição com apoio da gurizada nova, que tem essa cabeça privilegiada das novidades, para que a gente possa de alguma maneira estar cada vez mais perto do torcedor, consolidando cada vez mais nossa posição como um clube grande. Somado a isso o desafio, gosto de desafios, assim como foram os cem mil sócios, se chegou na época sem nenhum recurso e infraestrutura e até hoje é o case mais falado do brasil, ninguém superou nessa modalidade que a gente tem, e poucos clubes tiveram a inadimplência de 20% durante todo esse período de pandemia. muitos tiveram 50%, 60% de inadimplência durante a pandemia. 

O digital é uma coisa que defendo há muitos anos, não por conhecer as áreas, mas por me informar. Saber: como é isso aqui, como é aquilo lá? Ficar por dentro do que está acontecendo e isso pode gerar patrocínio, recurso. É o que temos que buscar, para primeiro equalizar as dívidas, depois continuar sendo um clube grande e competitivo. O Inter não pode mais negociar com o tempo, acabou isso de empurrar com a barriga, temos que resolver os problemas agora. e com o apoio do torcedor, sócio, quem não é sócio tem que se associar, porque não vamos ter verbas igual Flamengo, Corinthians, Palmeiras, patrocínios mirabolantes, esquece. Temos 7 milhões de consumidores, essa é a nossa realidade. tem que entender como o mercado funciona. O apoio de vocês é importante, para transmitir a nossa mensagem e pensamento.

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